quarta-feira, 19 de junho de 2013

O nacionalismo leva a exploração e ao confronto

Superficialmente você pode concordar quando ouve dizer que o nacionalismo, com todo sua emoção e interesse pessoal, leva a exploração e ao confronto do homem contra o homem, mas livrar realmente a mente da insignificância do nacionalismo é outra questão. Ser livre, não somente do nacionalismo, mas também de todas as conclusões das religiões organizadas e sistemas políticos é essencial se a mente é jovem, fresca, inocente num estado da revolução, e apenas tal mente que pode criar um novo mundo, não os políticos, ou os mortos, nem os sacerdotes, que estão aprisionados nos seus próprios sistemas religiosos. Portanto, felizmente ou infelizmente, para você, se você ouve algo que é verdadeiro, se você apenas ouve e não se sente ativamente alterado de modo que sua mente comece a se livrar de todas as coisas limitadas e deturpadoras, então a verdade que você ouviu tornar-se um veneno. Certamente, a verdade transforma-se num veneno se a mente ouve e não age, como uma infecção em uma ferida. Mas, para descobrir por si mesmo o que é a verdade e o que é o falso, e ver a verdade no falso, é deixar que a verdade opere levando adiante a própria ação.(1)

Não há boa ou má influência - só há influência; mas quando sou influenciado por uma coisa que não me convém, chamo-lhe má influência. No momento que você protege a sua família, sua pátria, um tecido colorido chamado bandeira, uma crença, uma ideia, um dogma, um objeto de desejo ou aquilo a que já tens apego, essa própria proteção anuncia a raiva. Assim, você pode olhar a raiva sem nenhuma explicação ou justificação, sem dizer: "Tenho de proteger o que é meu" ou "Tive razão para me encolerizar" ou "Que estupidez a minha, ter-me encolerizado"? Pode você olhar a raiva como se isto fosse algo por si mesmo? Pode olhar total e objetivamente, quer dizer, sem justificar ou condenar?(2)

Os entes humanos estão condicionados; seus padrões de conduta, seus pontos de vista, suas atividades, sua agressividade, seus contraditórios estados mentais — ódio e amor, prazer e dor, desespero e esperança — a batalha constante (…) no campo da consciência, a invenção de deuses, crenças, seitas — tudo isso é produto da mente condicionada. Nossas nacionalidades, as divisões entre pessoas, raças, etc., tudo isso é resultado da educação que recebemos e da influência da sociedade.(3)

Embora sejamos todos seres humanos, construímos barreiras entre nós e nossos vizinhos por causa do nacionalismo, da raça, da casta, e classe – o que novamente cria isolamento, separação. Uma mente que está presa neste estado de isolamento, provavelmente nunca poderá compreender o que é religião. Pode acreditar, pode ter certas teorias, conceitos, fórmulas, pode tentar se identificar com o que chama Deus, mas religião, me parece, não tem nada a ver com qualquer crença, com qualquer sacerdote, com qualquer igreja ou livro chamado sagrado. O estado da mente religiosa só pode ser compreendido quando nós começarmos a entender o que a beleza é, e para a compreensão da beleza devemos chegar a ela em total solidão. Só quando a mente está completamente só pode conhecer o que é beleza, não em outro estado. Solidão obviamente não é isolamento, e não é raridade. Para ser uma raridade é simplesmente ser excepcional de algum modo, enquanto que estar completamente só requer extraordinária sensibilidade, inteligência, compreensão. Estar completamente só implica que a mente está livre de todo tipo de influência e portanto não contaminada pela sociedade, e deve estar só para entender o que é religião – que é descobrir por si mesmo se existe algo imortal, além do tempo.(4) 

Não pode haver paz se estamos em guerra uns com os outros, não só exterior, mas também interiormente — se sou agressivo, se sou violento, e estou empenhado em alcançar, a qualquer preço, meu próprio preenchimento. Posso falar de ordem e de paz, mas sou um ente humano violento. Ao descobrir essa violência — não apenas a violência física, mas a violência da palavra, do gesto, a violência que se expressa em crueldade para com os homens, na matança de animais, etc. — ao ver essa violência, eu a nego. Dessa negação de "o que é" nasce a paz. (...) Toda a estrutura social baseia-se na desordem, com divisões de classe e de outra espécie. Quando cada homem está trabalhando só para si próprio, competindo, endeusando o êxito e a fama — isso faz parte da desordem, tanto exterior, como interior. Desordem significa conflito interior, profundo, na estrutura psicológica; e conflito exterior, com o próximo, com a esposa ou o marido. Existirá sempre conflito enquanto houver atividade egocêntrica. E o conflito gera, necessariamente, a desordem. Há desordem decorrente das nacionalidades e línguas separadas. (...) O culto das nacionalidades, o culto das bandeiras — tudo isso é desordem. E, para descobrirmos o que é a ordem... temos de descobrir o que é a desordem, compreender a desordem existente no mundo e os fatores que a produzem — a competição entre nacionalidades, as classes, as religiões, a incessante busca de prazer e a inveja. Não podemos dissolver essas coisas sem as termos compreendido, sem termos compreendido a enorme e complexa estrutura do prazer.

(...) Quando se vê a verdade, evitam-se todos os perigos. Mas tão habituados estamos com o perigo, que já o aceitamos. Aceitamos a guerra como norma de vida, e a guerra é a mais mortífera das coisas; o assassínio do semelhante, a organização do morticínio, patriotismo, nacionalismo, líderes, propaganda — tudo isso são inutilidades extremamente perigosas. É relevante perceber a verdade de que, sendo nossa civilização, nossa cultura, sobremaneira perigosa, é dever de todo homem equilibrado revoltar-se contra ela, rejeitá-la de todo, interiormente, psicologicamente. Mas você não pode rejeitá-la se não enxerga o perigo; e enxergar o perigo é enxergar a verdade — não intelectual, nem verbal, nem emocionalmente, porém como fato. Então, se você tiver boa sorte, sua mente poderá alcançar aquela verdade. Dar-se-á então a "explosão" de algo que não pode ser expresso em palavras. Se esse "algo" não for compreendido, se nele você não tiver sua vida,  uma vida em que seu coração e sua mente estarão vivendo numa dimensão diferente, nesse caso sua vida atual de cada dia, por mais nobre e boa, e por mais solicita que seja, não tem significação alguma. Naturalmente, há necessidade de uma reforma social, etc., mas o "bem-estar social", a luta pelo aperfeiçoamento de nós mesmos e da sociedade é totalmente insignificativa; significativo é encontrar a Realidade e, com base nela, viver na sociedade, viver neste mundo. Então, há beleza e amor; de outro modo — não há nada.(...)

A liberdade é uma "explosão" que só pode verificar-se quando o tempo, como meio de mudança gradual, cessa. (...) Quando vemos o que é falso, esse próprio ato de ver é a ação da verdade. Por exemplo, quando observamos o que o nacionalismo tem causado por todo o mundo, quando vemos o perigo que ele representa, sua total irracionalidade, sua brutalidade — quando vemos realmente tudo isso, então, não só estamos livres dele, mas essa liberdade resulta do percebimento do verdadeiro. Mas, se você diz: "Vou me livrar gradualmente do nacionalismo, me tornando internacional, europeu, gradualmente evolverei para um mais largo entendimento com as pessoas" — nessa "gradualidade" estão sendo lançadas as sementes da guerra, da separação. Isso é o mesmo que proceder como aqueles que estão sempre pregando a não violência, enquanto, na realidade, em seus corações, em sua maneira de vida, são indivíduos violentos, com sua disciplina e "resistência".

O idealista é o homem mais perigoso do mundo, porque não quer ver o fato, e ultrapassar imediatamente esse fato.(...)

Tal é o resultado da sociedade em que estamos vivendo; cada um buscando a sua própria segurança e criando uma sociedade que lhe garanta segurança. Mas, essa mesma "garantia" de segurança externa cria divisões: os que estão em segurança e os que não estão em segurança, os que "tem" e os que "não tem". Começa a batalha, a guerra, e justamente a coisa que você deseja — estar em segurança — lhe é negada. Quando temos bandeiras separadas e toda a confusão das diferentes nacionalidades, e governos, e exércitos, e morticínios como os que atualmente estamos observando — esse é o resultado desse medo profundamente enraizado nos entes humanos. (5) 

(1) Krishnamurti – O Livro da Vida
(2) Krishnamurti - Liberte-se do Passado
(3) Krishnamurti - A Libertação dos Condicionamentos
(4) Krishnamurti - O Livro da Vida
(5) Krisnamurti — Onde está a bem-aventurança

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